Tímido, não gay

Depois de quase um ano nessa cidade imensa e comedora de criancinhas, ainda consigo me assustar.
Situação:
Sábado à noite, véspera de férias, as pessoas estão cada vez mais loucas por diversão, o semestre está acabando e é preciso algo para se lembrar durante o período de ócio.
Fujo do meu barzinho habitual e vou parar em uma das boates do centro, tomo uma água tônica enquanto reparo nas pessoas dançando.
Ela chega 'chegando':
- Oiiii!
Me olha da cabeça aos pés, centralizando bem até demais.
- Oi.
Respondo tímido.
- Tá bebendo Ice?
Viu que era transparente, nem pensou que poderia ser água.
- Não, é água tônica.
- Hum.
Cara de decepção.
Volto a prestar atenção na música, ela começa a falar novamente:
- Tá afim de alguma coisa?
- Sei lá, cheguei por aqui agora.
- Assim, tipo, você tem apartamento?
- Na verdade mais ou menos, porque eu moro com outros caras e tal.
- Tá afim de me levar pra dançar?
- Bem, é que eu ainda estou um pouco confuso.
Ela faz cara de quem descobriu a energia elétrica:
- Saquei, você é gay né? Tá na boa então, vou te deixar em paz.
E sai.

Fala sério! Primeiro, ela nem me deu tempo pra pensar em nada, segundo, eu nem achei ela interessante, ela estava bêbada e a noite estava só começando, terceiro, eu não sou gay! Só porque eu não disse sim pra tudo que ela quis eu era gay!

Ah, cidade mais estranha!